segunda-feira, 21 de maio de 2012

Aprendendo a discordar usando seu papel higiênico

Qual é a forma certa de se colocar um rolo de papel higiênico no banheiro?
POR CIMA!
60% das pessoas têm a certeza absoluta que o certo é o estilo “cachoeira”, com o papel saindo por cima. É mais fácil achar a ponta, dá pra rasgar certinho no picote, não fica raspando a mão na parede (menos bactérias!) e hotéis podem sinalizar aos seus hóspedes que o banheiro foi higienizado, com dobras elaboradas ou colando selinhos.
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POR BAIXO!
Os outros 40% acham esses 60% uns loucos e estão certos que o melhor é por baixo. O “caimento” é melhor, o papel não fica sobrando, gatos e crianças não conseguem desenrrolar um monte de papel e basta uma puxadinha para rasgar um quadradinho, porque para baixo tem mais tração.
Mas, afinal, quem está certo e quem está errado?
Todo mundo. Não tem certo nem errado.
O papel higiênico é seu, e você usa do jeito que quiser. É uma decisão totalmente pessoal, influenciada apenas por hábitos, com as duas maneiras suportadas por motivos bastante pertinentes.


POR QUE ISSO INTERESSA?


Essa questão bizarra do papel-higiênico serve como dinâmica para colocar o foco na nossa habilidade de argumentação e não para se chegar a uma resposta, já que não tem o certo nem o errado.
Por exemplo, o professor de sociologia Edgar Alan Burns, do Eastern Institute of Technology Sociology, usa esse truque no primeiro dia de aula. Ele pergunta aos seus alunos:
“Como vocês acham que o papel higiêncico deve ser colocado?”
E nos 50 minutos seguintes, os alunos naturalmente começam a avaliar os MOTIVOS para suas respostas e acabam chegando sozinhos a questões sociais muito maiores como:
• diferenças de papéis sociais entre homens e mulheres
• diferenças entre comportamentos públicos e privados
• diferenças entre classes sociais
• etc
São relações de construção social que nunca pararam para pensar antes, mas que agora, sem que ninguém os orientasse, conseguiram enxergar.
Sozinhos, começaram a raciocinar e perceberam correlações e fatos. E, principalmente, começaram a argumentar.
No dia-a-dia, quase nunca fazemos isso. Geralmente, tomamos um partido e passamos a defendê-lo de forma passional, enxergando só o que nos interessa.
Somos bons de discutir, mas ruins para argumentar. Piores ainda para mudar de ideia.
Mais para o boxe do que para o tênis.
O que parece ser uma estratégia não muito inteligente para encarar essa nova sociedade em que conversamos com muito mais gente, sobre muito mais coisas, todo santo dia.

APRENDER A DISCORDAR

A aula do papel-higiênico devia ser dada de cara para crianças.
A escola ensina que existe o certo e o errado, e dá notas baseadas nisso. Mas podia estimular abordagens diferentes, habilidade de argumentação, capacidade de deduzir (algumas já fazem, eu sei, mas a maioria ainda não).
Do mesmo jeito que tem nota para as melhores respostas, deveria ter para as melhores perguntas também.
Senão a gente vai continuar crescendo com essa mania de preferir estar certo do que aprender algo novo, do que parar pra pensar e repensar sempre. Aproveitar a bagagem e o raciocínio do outro.
Já reparou como a maioria dos comentários feitos todos os dias na internet não tem elaboração nenhuma? Ou é genial ou é a coisa mais estúpida que já se viu em toda a a história da humanidade.
O programador Paul Grahan fez um gráfico bacana, que mostra a “Hierarquia da Discordância”, do mais ao menos elegante, do mais ao menos eficiente.
O design thinking é isso. A maneira de pensar de um designer não é a do certo ou do errado, porque não existe certo ou errado na hora de projetar um bule de café. Mas existe o melhor, o mais eficiente. É uma maneira de pensar em que se evolui a realidade.
Quem sabe um dia a gente consegue argumentar sobre futebol, política e religião. Dizem que não se discute, mas a recomendação só existe porque somos meio trogloditas.

Wagner Brenner

terça-feira, 15 de maio de 2012

Tao: a grande rebelião

Os mestres taoístas falam apenas do "Caminho"; Tao significa o Caminho, e eles nunca falam sobre o objetivo. Eles dizem: "O objetivo virá por si mesmo; você não precisa se preocupar com ele".

Se você conhece o Caminho, conhece o objetivo, pois o objetivo não está no final do Caminho, mas ao longo de todo o Caminho; a cada momento e a cada passo ele está presente.



Não que você atinja o objetivo quando o Caminho termina; se você estiver no Caminho, estará no objetivo a todo momento, onde quer que você esteja.

Estar no Caminho é estar no objetivo. Por isso os mestres taoístas não falam sobre o objetivo, não falam sobre Deus, não falam sobre moksha, nirvana, iluminação... não, absolutamente. A mensagem deles é muito simples: você precisa encontrar o Caminho.

As coisas ficam um pouco mais complicadas porque eles dizem: O Caminho não tem mapa, não está cartografado, não é tal que você possa seguir alguém e encontrá-lo. O Caminho não é como uma auto-estrada; é mais como um pássaro voando no céu, sem deixar rastro... O pássaro voou, mas nenhum rastro foi deixado e ninguém pode segui-lo.

Assim, o Caminho é um percurso inexplorado; ele é um percurso, mas inexplorado; ele não está pronto, não está disponível, você não pode simplesmente decidir caminhar por ele; você terá de encontrá-lo.

E você terá de encontrá-lo à sua própria maneira, pois nenhuma outra servirá para você. Buda caminhou, Lao Tzu caminhou, Jesus caminhou, mas esses caminhos não irão ajudá-lo, porque você não é Jesus, não é Lao Tzu, não é Buda. Você é você, um indivíduo único. Somente ao caminhar, somente ao viver a sua vida, você encontrará o Caminho. Isso é algo de grande valor.

É por isso que o Taoísmo não é uma religião organizada, e nem pode ser. Ele é uma religiosidade orgânica, mas não uma religião organizada.

Você pode ser um taoísta se simplesmente viver sua vida autêntica e espontaneamente, se tiver coragem de entrar no desconhecido por conta própria, sozinho, sem depender de ninguém, sem seguir ninguém, mas simplesmente penetrando na noite escura sem saber se chegará a algum lugar ou se ficará perdido.

Se você tiver coragem, esse risco existe; é arriscado, é uma aventura.

O Cristianismo, o Hinduísmo e o Islamismo são grandes rodovias: você não precisa arriscar nada, simplesmente segue a multidão. Com o Tao, você precisa seguir sozinho, precisa estar sozinho.

O Tao respeita o indivíduo e não a sociedade; respeita o único e não a multidão; respeita a liberdade e não a conformidade. O Tao não tem tradição; ele é uma rebelião, e a maior rebelião possível.



Osho, em "Tao: Sua História e Seus Ensinamentos"

terça-feira, 8 de maio de 2012

O Ser é seu salvador

Não há outro salvador, além do seu Ser. Os grilhões da ignorância e dos maus hábitos o escravizam. Você sofre porque teima em seguir os maus hábitos. Se ao menos pudesse imaginar como seria sua vida um pouco mais adiante, para que o tempo, o precioso tempo que lhe resta, não seja gasto infrutiferamente! Os hindus costumam dizer: "A criança está ocupada com folguedos; o jovem, com sexo; e o adulto, com preocupações. Quando poucos se ocupam com Deus!"(...)
Apodere-se de Deus dentro de você e saiba que o Ser é a Divindade. Você deve ser capaz de responder, sem hesitar, à suprema indagação de sua inteligência: "De onde vim?"
Deus e imortalidade não são mitos. O mais grave insulto ao Ser dentro de você é morrer acreditando ser uma criatura mortal. Até quando se permitirá - você, filho de Deus,  - ser ceifado, indefeso pela foice da morte, porque nunca tentou, durante a vida, vencer maya, a ignorância?
Deus existe. Ao ser humano, Ele conferiu , independência, poder e razão. Por ser dotado de razão, o homem pode encontrar o Senhor.(...)
Use a chave da razão. Ela não se encontra nas pedras e nos animais . Deus concedeu o raciocinio ao homem para que ele pudesse libertar-se da ilusão da mortalidade(...)

 Olhe para dentro de você mesmo. Lembre-se: o infinito está em toda parte. Mergulhando nas profundezas da superconsciência, você pode acelerar sua mente pela eternidade afora; pelo poder mental, você pode ir longe , além da mais longíqua estrela. A lanterna da mente está plenamente equipada para lançar seus raios super conscientes no mais recôndito coração da verdade. Use-a para isso.
Lembre-se é você quem deve viajar para o Reino dos Céus; ele não virá por remessa especial. Cada homem tem de trilhar sozinho seu próprio caminho.

Paramahansa Yogananda

[trechos do livro: A eterna busca do homem - como perceber Deus na vida diária]