domingo, 22 de julho de 2012

A mão e a boca


Por:. Fr. Hórus Menthu

Costuma-se falar muito sobre aquilo que se quer. Todo mundo é rápido do gatilho quanto o assunto é propalar aos quatro ventos desejos, proesas e esperanças. Entretanto há uma grande distância entre a boca e a mão e nesta distância muita coisa se perde, se distorce e se refaz. Pois a boca é a ferramenta primordial do Ego, sua escrava, que por ela manifesta todas as suas ilusões, sejam aquelas auto-impostas ou as que criamos por pura conveniência.
A mão, porém, tem outro mestre, que é o coração. Ela age sozinha, fazendo o que deve fazer, sem que o Ego lhe preste atenção. Pois é a mão quem ergue muros e lavra a terra, é a mão que se suja no trabalho enquanto a boca permanece pura com suas belas palavras. No dia-a-dia fazemos muitas afirmações, prometemos tudo o que nos seja conveniente, mentimos e enganamos os outros e a nós mesmos. No Alfabeto Hebraico, a boca é representada pela letra Peh, que está ligada ao Signo de Mercúrio. Na Astrologia este é o planeta das transformações, com seu giro rápido ao redor do Sol. Segundo a antiga tradição (hoje sabida como falsa), apresentava apenas um de seus lados para a luz solar, vivendo eternamente metade na luz, metade nas trevas.

Este planeta é também o deus Hermes, divindade do conhecimento, mas também dos ladrões e viajantes. Na árvore da Vida seu Caminho é o que liga Netzach a Hod, simbolizando a excitação da Inteligência, onde também está o Atu “A Torre”, carta de destruição e queda trazida pelo Aeon. A boca é por onde o Ego manifesta sua Inteligência e por onde ele exalta-se para o mundo. É onde está a trapaça de Hermes, roubando o gado de Apolo e depois ludibriando-o com palavras doces. É na boca que estão a mudança rápida de idéias e os truques do ilusionista.

Mas em nossas vidas também fazemos muitas coisas sem nos darmos por conta. São nossas mãos trabalhando sem que nosso Ego perceba o que está acontecendo, manifestando nossa verdadeira natureza. São duas as Letras Hebraicas que falam das mãos; Cheth para a mão direita, Yod para a esquerda. Estas duas letras falam da unidade com o Divino, da pluralidade da Criação, do Infinito que se acomoda no Finito.

Falam do impulso que vence o medo e realiza o que está no Coração. Seus signos são Câncer e Virgem, o sentimento puro, ainda que oculto por grossa carapaça, e a capacidade de realizar o que é necessário se fazer. Ambos ligados aos sentimentos, ao doar-se ao outro. Ambos também têm nos Atus estas letras ligadas, “O Carro” e “O Eremita”, a figura de Hórus; em um o deus guerreiro, seguindo em sua armadura dourada para a batalha e a vitória, no outro o deus idoso, já realizado em suas aspirações e tendo vencido suas guerras, prepara-se agora para gerar um novo mundo. Os caminhos das mãos são os que ligam Binah a Geburah e Chesed a Tipharet, que percebem o mundo sentindo-o e dele obtendo puro entendimento, sem julgar, e que manifestam a Verdade.

É nas mãos que encontramos, assim, o contato mais puro entre aquilo que somos em nossos corações e o mundo. É com elas que fazemos a verdaderia obra de quem nós realmente somos. Se a boca mente, as mãos toda verdade revelam. Mas o que significa tudo isso? Simples. Ao se buscar o conhecimento de outro, bem como de si mesmo, deve-se manter uma observação não de suas palavras, muitas vezes bonitas e açucaradas, e sim em seus atos. Mais importante que o que se diz são as ações tomadas pelas pessoas. O comportamento, não pontual mas ao longo do tempo, revela a verdadeira motivação e o real caráter de uma pessoa, ainda que suas palavras sejam contraditórias.

Nosso Ego manifesta-se através delas, enquanto aquilo que fazemos na prática revela nosso Espírito. Na busca pela Verdadeira Vontade muitas vezes tecemos teorias e procuramos na Palavra e no Intelecto (a boca) as respostas que buscamos. Entretanto seria muito mais sábio que estas respostas não fossem procuradas ali e sim onde elas se escondem, em nossas atitudes, em nossos comportamentos, nos gestos de nossas mãos.

Este ensaio foi escrito por frater Hórus Menthu, e tem todos os direitos e ressalvas reservados ao mesmo, assim como também ao antigo site da Ordo Templi Orientis-Representação Brasileira, acessado pelo recurso da web Wayback Machine.Todos os direitos reservados em referência e autoria e Creative Commons.


Texto extraído do blog: http://lampadamagicka.wordpress.com/

domingo, 8 de julho de 2012




ALEGRIA

Alegria como experiência de religiosidade é um valor que não tem
preço. Essa sensação da alma, mais do que qualquer outra coisa, contagia e
abranda o coração dos homens.

A maioria das pessoas tem uma visão distorcida da alegria, pois
a confunde com festas frívolas e divertimentos que provocam sensações
intensas, risos exagerados; enfim, satisfações puramente emocionais.
Aliás, não há nada de errado em ser jovial, bem-humorado,
festivo e risonho. Sentir as emoções terrenas inclui-se entre as
prerrogativas que o Criador destinou a suas criaturas. Vivenciar a
normalidade das sensações humanas é um processo natural estabelecido pelo
Mente Celestial.

Talvez as religiões fundamentalistas tenham mesclado as idéias
contidas nas palavras alegria e tentação. Na realidade, o Mestre ensinava a
seus seguidores que vivessem com alegria. "Eu vos digo isso para que a minha
alegria esteja em vós", diz Jesus, "e vossa alegria seja plena".
A verdadeira alegria está associada à entrega total da criatura
nas mãos da Divindade, ou mesmo a aceitação de que a Inteligência Celestial
a tudo provê e socorre.

É a confiança integral em que tudo está justo e certo e a
convicção ilimitada nos desígnios infalíveis da Providência Divina.
A palavra aleluia tem origem no hebreu "hallelu-yah" e
significa "louvai com júbilo o Senhor". Tem sido usada como cântico de
alegria ou de ação de graças pela liturgia de muitas religiões a fim de
glorificar a Deus. A designação "sábado de aleluia", utilizada pela Igreja
Católica, tem como fundamento a exaltação à alegria, visto que nesse dia se
comemora o reaparecimento de Jesus Cristo depois da crucificação.
Viver em estado de alegria é estar plenamente sintonizado com
nossa paternidade divina, através das mensagens silenciosas e sábias que a
Vida nos endereça.

A "entrega a Deus" é a base de toda a felicidade. No entanto, o
problema reside em algumas religiões que recomendam a "entrega" não a Deus,
mas a mandatários ou representantes "divinos", ou mesmo a congregações
doutrinárias que impõem obediência e subordinação a seus diretores.
Condutas semelhantes acontecem em seitas ou em grupos
dissidentes de uma religião, em que há uma entrega incondicional dos adeptos
ao líder religioso e que resulta, inicialmente, numa suposta sensação de
alegria e satisfação.

Na realidade, quando existe subordinação na nossa "entrega a
Deus", ela não pode ser considerada real, pois, mais cedo ou mais tarde, a
criatura vai notar que está encarcerada intimamente e que lhe falta a
verdadeira comunhão com o Criador.

Viver "em estado de graça" ou em "comunhão com Deus" é estar
perfeitamente harmonizados com nossa natureza espiritual. É a alegria de
repetir com Jesus Cristo: "Eu estou no Pai e o Pai está em mim".
A felicidade é um trabalho interior que quase nunca depende de
forças externas. Deus representa a base da alegria de viver, pois a
felicidade provém da habilidade de percebermos as "verdadeiras intenções" da
ação divina que habita em nós e do discernimento de que tudo o que existe no
Universo tem sua razão de ser.

O homem carrega na sua consciência a lei de Deus, afirmam os
Espíritos Superiores a Allan Kardec. "A lei natural é a lei de Deus e a
única verdadeira para a felicidade do homem. Ela lhe indica o que deve fazer
e o que não deve fazer, e ele não é infeliz, senão quando se afasta dela".
Alegria como experiência de religiosidade é um valor que não tem
preço. Essa sensação da alma, mais do que qualquer outra coisa, contagia e
abranda o coração dos homens.

"Ninguém fica feliz por decreto"; sente imensa satisfação apenas
quem está iluminado pela chama celeste. Rejubila-se realmente aquele que se
identificou com a Divindade e descobriu que "a lei natural é a lei de Deus e
a única verdadeira para a felicidade do homem".

A alegria espontânea realça a beleza e a naturalidade dos
comportamentos humanos. Cultivar o reino espiritual em nós facilita-nos a
aprendizagem de que a alegria real não é determinada por fatos ou forças
externas, mas se encontra no silêncio da própria alma, onde a inspiração
divina vibra incessantemente.








Do livro:  Os prazeres da alma, de Francisco do Espírito Santo Neto - por: HAMMED

sexta-feira, 6 de julho de 2012

A Sabedoria do Silêncio


Fale apenas quando for necessário.
Pense no que vai dizer antes de abrir a boca.
Seja breve e preciso já que cada vez que deixas sair uma palabra,
deixas sair ao mesmo tempo uma parte de seu Chi (energia).
Desta maneira, aprenderás a desenvolver a arte de falar sem perder energia.
Nunca faças promessas que não possas cumprir.
Não te queixes, nem utilizes em seu vocabulário,
palavras que projetem imagens negativas
porque se produzirão ao redor de ti,
tudo o que tenhas fabricado com tuas palavras carregadas de Chi.
Se não tens nada de bom, verdadeiro e útil a dizer,
é melhor se calar e não dizer nada.
Aprenda a ser como um espelho: observe e reflita a energia.
O próprio Universo é o melhor exemplo de um espelho
que a natureza nos deu,
Porque o universo aceita, sem condições, nossos pensamentos,
nossas emoções, nossas palavras, nossas ações,
e nos envia o reflexo de nossa própria energia
através das diferentes circunstâncias
que se apresentam em nossas vidas.
Se te identificas com o êxito, terás êxito.
Se te identificas com o fracasso, terás fracasso.
Assim, podemos observar que as circunstâncias que vivemos
são simplesmente manifestações externas
do conteudo de nossa conversa interna.
Aprende a ser como o universo,
escutando e refletindo a energia
sem emoções densas e sem prejuizos.
Porque sendo como um espelho sem emoções
aprendemos a falar de outra maneira.
Com o poder mental tranquilo e em silêncio,
sem lhe dar oportunidade de se impor
com suas opiniões pessoais
e evitando que tenha reações emocionais excessivas,
simplesmente permite uma comunicação sincera e fluida.
Não te dês muita importância, e sejas humilde,
pois quanto mais te mostras superior,
inteligente e prepotente,
mais te tornas prisioneiro de tua própria imagem
e vives em um mundo de tensão e ilusões.
Sê discreto, preserva tua vida íntima,
desta forma te libertas da opinião dos outros
e terás uma vida tranquila e benevolente
invisivel, misteriosa, indefinivel,
insondável como o TAO.
Não entres em competição com os demais, torna-te como a terra
que nos nutre, que nos dá o necessário.
Ajuda ao próximo a perceber suas qualidades,
a perceber suas virtudes, a brilhar.
O espírito competitivo faz com que o ego cresça
e, inevitavelmente, crie conflitos .
Tem confiança em ti mesmo.
preserva tua paz interior
evitando entrar na provação
e nas trapaças dos outros.
Não te comprometas facilmente,
se agires de maneira precipitada
sem ter consciência profunda da situação,
vais criar complicações.
As pessoas não tem confiança naqueles que muito facilmente dizem “sim”
porque sabem que esse famoso “sim”não é sólido e lhe falta valor.
Toma um momento de silêncio interno
para considerar tudo que se apresenta a ti
e só então tome uma decisão.
Assim desenvolverás a confiança em ti mesmo e a Sabedoria.
Se realmente há algo que não sabes,
ou não tenhas a resposta a uma pergunta que tenham feito, aceite o fato.
O fato de não saber é muito incômodo para o ego
porque ele gosta de saber tudo, sempre ter razão
e sempre dar sua opinião muito pessoal.
Na realidade, o ego nada sabe
simplesmente faz acreditar que sabe.
Evite julgar ou criticar,
o TAO é imparcial em seus juizos
não critica a ninguem,
tem uma compaixão infinita e não conhece a dualidade.
Cada vez que julgas alguem
a única coisa que fazes é expressar tua opinião pessoal,
e isso é uma perda de energia,
é puro ruido.
Julgar, é uma maneira de esconder tuas próprias fraquezas.
O Sábio a tudo tolera, sem dizer uma palavra.
Recorda que tudo que te incomoda nos outros
é uma projeção de tudo que não venceu em ti mesmo.
Deixa que cada um resolva seus problemas
e concentra tua energia em tua própria vida.
Ocupa-te de ti mesmo, não te defendas.
Quando tentas defender-te
na realidade estás dando demasiada importância às
palavras dos outros, dando mais força à agressão deles.
Se aceitas não defender-te estarás mostrando
que as opiniões dos demais não te afetam,
que são simplesmente opiniões,
e que não necessitas convencer aos outros para ser feliz.
Teu silêncio interno o torna impassível.
Faz uso regular do silêncio para educar teu ego
que tem o mal costume de falar o tempo todo.
Pratique a arte do não falar.
Toma um dia da semana para abster-se de falar.
Ou pelo menos algumas horas no dia,
segundo permita tua organização pessoal.
Este é um exercício excelente para conhecer
e aprender o universo do TAO ilimitado,
ao invés de tentar explicar com palavras o que é o TAO.
Progressivamente, desenvolverás a arte de falar sem falar,
e tua verdadeira natureza interna substituirá
tua personalidade artificial, deixando aparecer
a luz de teu coração e o poder
da sabedoria do silêncio.
Graças a esssa força, atrairás para ti tudo que necessitas
para tua própria realização e completa liberação.
Porem tens que ter cuidado para que o ego não se infiltre…
O Poder permanece quando o ego
se mantém tranquilo e em silêncio.
Se teu ego se impõe e abusa desse Poder
o mesmo Poder se converterá em um veneno,
e todo teu ser se envenenará rapidamente.
Fica em silêncio, cultiva teu próprio poder interno.
Respeita a vida dos demais e de tudo que existe no mundo.
Não force, manipule ou controle o próximo.
Converta-te em teu próprio Mestre e deixa os demais serem o que são,
ou o que têm a capacidade de ser.
Dizendo em outras palavras, viva seguindo a vida sagrada do TAO.