sábado, 25 de agosto de 2012

Passeio Socrático - Frei Betto


Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos em paz nos seus mantos cor de açafrão.

Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos dependurados em telefones celulares; mostravam-se preocupados, ansiosos e, na lanchonete, comiam mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, muitos demonstravam um apetite voraz. Aquilo me fez refletir: Qual dos dois modelos produz felicidade? O dos monges ou o dos executivos?
Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: “Não foi à aula?” Ela respondeu: “Não; minha aula é à tarde”. Comemorei: “Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir um pouco mais”. “Não”, ela retrucou, “tenho tanta coisa de manhã...” “Que tanta coisa?”, indaguei. “Aulas de inglês, balé, pintura, piscina”, e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: “Que pena, a Daniela não disse: ‘Tenho aula de meditação!’”
A sociedade na qual vivemos constrói super-homens e supermulheres, totalmente equipados, mas muitos são emocionalmente infantilizados. Por isso as empresas consideram que, agora, mais importante que o QI (Quociente Intelectual), é a IE (Inteligência Emocional). Não adianta ser um superexecutivo se não se consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem aulas de meditação!
Uma próspera cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: “Como estava o defunto?”. “Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!” Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?
Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na realidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega aids, não há envolvimento emocional, controla-se no mouse. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizi¬nho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os valores, não há compromisso com o real! É muito grave esse processo de abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos também eticamente virtuais…
A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito. Televisão, no Brasil - com raras e honrosas exceções -, é um problema: a cada semana que passa, temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos. A palavra hoje é ‘entretenimento’; domingo, então, é o dia nacional da imbecilidade coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: “Se tomar este refrigerante, vestir este tênis,¬ usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!” O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba¬ precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.
Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes. Colocá-los onde? Eu, que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma su-gestão. Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. Porque, para fora, ele não tem aonde ir! O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globocolonizador, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.
Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à Europa e visita uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história daquela cidade - a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shopping centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingos. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...
Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer de uma cadeia transnacional de sanduíches saturados de gordura…
Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: “Estou apenas fazendo um passeio socrático.” Diante de seus olhares espantados, explico: “Sócrates, filósofo grego, que morreu no ano 399 antes de Cristo, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: “Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz.”

Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Luis Fernando Veríssimo e outros, de “O desafio ético” (Garamond), entre outros livros.

domingo, 22 de julho de 2012

A mão e a boca


Por:. Fr. Hórus Menthu

Costuma-se falar muito sobre aquilo que se quer. Todo mundo é rápido do gatilho quanto o assunto é propalar aos quatro ventos desejos, proesas e esperanças. Entretanto há uma grande distância entre a boca e a mão e nesta distância muita coisa se perde, se distorce e se refaz. Pois a boca é a ferramenta primordial do Ego, sua escrava, que por ela manifesta todas as suas ilusões, sejam aquelas auto-impostas ou as que criamos por pura conveniência.
A mão, porém, tem outro mestre, que é o coração. Ela age sozinha, fazendo o que deve fazer, sem que o Ego lhe preste atenção. Pois é a mão quem ergue muros e lavra a terra, é a mão que se suja no trabalho enquanto a boca permanece pura com suas belas palavras. No dia-a-dia fazemos muitas afirmações, prometemos tudo o que nos seja conveniente, mentimos e enganamos os outros e a nós mesmos. No Alfabeto Hebraico, a boca é representada pela letra Peh, que está ligada ao Signo de Mercúrio. Na Astrologia este é o planeta das transformações, com seu giro rápido ao redor do Sol. Segundo a antiga tradição (hoje sabida como falsa), apresentava apenas um de seus lados para a luz solar, vivendo eternamente metade na luz, metade nas trevas.

Este planeta é também o deus Hermes, divindade do conhecimento, mas também dos ladrões e viajantes. Na árvore da Vida seu Caminho é o que liga Netzach a Hod, simbolizando a excitação da Inteligência, onde também está o Atu “A Torre”, carta de destruição e queda trazida pelo Aeon. A boca é por onde o Ego manifesta sua Inteligência e por onde ele exalta-se para o mundo. É onde está a trapaça de Hermes, roubando o gado de Apolo e depois ludibriando-o com palavras doces. É na boca que estão a mudança rápida de idéias e os truques do ilusionista.

Mas em nossas vidas também fazemos muitas coisas sem nos darmos por conta. São nossas mãos trabalhando sem que nosso Ego perceba o que está acontecendo, manifestando nossa verdadeira natureza. São duas as Letras Hebraicas que falam das mãos; Cheth para a mão direita, Yod para a esquerda. Estas duas letras falam da unidade com o Divino, da pluralidade da Criação, do Infinito que se acomoda no Finito.

Falam do impulso que vence o medo e realiza o que está no Coração. Seus signos são Câncer e Virgem, o sentimento puro, ainda que oculto por grossa carapaça, e a capacidade de realizar o que é necessário se fazer. Ambos ligados aos sentimentos, ao doar-se ao outro. Ambos também têm nos Atus estas letras ligadas, “O Carro” e “O Eremita”, a figura de Hórus; em um o deus guerreiro, seguindo em sua armadura dourada para a batalha e a vitória, no outro o deus idoso, já realizado em suas aspirações e tendo vencido suas guerras, prepara-se agora para gerar um novo mundo. Os caminhos das mãos são os que ligam Binah a Geburah e Chesed a Tipharet, que percebem o mundo sentindo-o e dele obtendo puro entendimento, sem julgar, e que manifestam a Verdade.

É nas mãos que encontramos, assim, o contato mais puro entre aquilo que somos em nossos corações e o mundo. É com elas que fazemos a verdaderia obra de quem nós realmente somos. Se a boca mente, as mãos toda verdade revelam. Mas o que significa tudo isso? Simples. Ao se buscar o conhecimento de outro, bem como de si mesmo, deve-se manter uma observação não de suas palavras, muitas vezes bonitas e açucaradas, e sim em seus atos. Mais importante que o que se diz são as ações tomadas pelas pessoas. O comportamento, não pontual mas ao longo do tempo, revela a verdadeira motivação e o real caráter de uma pessoa, ainda que suas palavras sejam contraditórias.

Nosso Ego manifesta-se através delas, enquanto aquilo que fazemos na prática revela nosso Espírito. Na busca pela Verdadeira Vontade muitas vezes tecemos teorias e procuramos na Palavra e no Intelecto (a boca) as respostas que buscamos. Entretanto seria muito mais sábio que estas respostas não fossem procuradas ali e sim onde elas se escondem, em nossas atitudes, em nossos comportamentos, nos gestos de nossas mãos.

Este ensaio foi escrito por frater Hórus Menthu, e tem todos os direitos e ressalvas reservados ao mesmo, assim como também ao antigo site da Ordo Templi Orientis-Representação Brasileira, acessado pelo recurso da web Wayback Machine.Todos os direitos reservados em referência e autoria e Creative Commons.


Texto extraído do blog: http://lampadamagicka.wordpress.com/

domingo, 8 de julho de 2012




ALEGRIA

Alegria como experiência de religiosidade é um valor que não tem
preço. Essa sensação da alma, mais do que qualquer outra coisa, contagia e
abranda o coração dos homens.

A maioria das pessoas tem uma visão distorcida da alegria, pois
a confunde com festas frívolas e divertimentos que provocam sensações
intensas, risos exagerados; enfim, satisfações puramente emocionais.
Aliás, não há nada de errado em ser jovial, bem-humorado,
festivo e risonho. Sentir as emoções terrenas inclui-se entre as
prerrogativas que o Criador destinou a suas criaturas. Vivenciar a
normalidade das sensações humanas é um processo natural estabelecido pelo
Mente Celestial.

Talvez as religiões fundamentalistas tenham mesclado as idéias
contidas nas palavras alegria e tentação. Na realidade, o Mestre ensinava a
seus seguidores que vivessem com alegria. "Eu vos digo isso para que a minha
alegria esteja em vós", diz Jesus, "e vossa alegria seja plena".
A verdadeira alegria está associada à entrega total da criatura
nas mãos da Divindade, ou mesmo a aceitação de que a Inteligência Celestial
a tudo provê e socorre.

É a confiança integral em que tudo está justo e certo e a
convicção ilimitada nos desígnios infalíveis da Providência Divina.
A palavra aleluia tem origem no hebreu "hallelu-yah" e
significa "louvai com júbilo o Senhor". Tem sido usada como cântico de
alegria ou de ação de graças pela liturgia de muitas religiões a fim de
glorificar a Deus. A designação "sábado de aleluia", utilizada pela Igreja
Católica, tem como fundamento a exaltação à alegria, visto que nesse dia se
comemora o reaparecimento de Jesus Cristo depois da crucificação.
Viver em estado de alegria é estar plenamente sintonizado com
nossa paternidade divina, através das mensagens silenciosas e sábias que a
Vida nos endereça.

A "entrega a Deus" é a base de toda a felicidade. No entanto, o
problema reside em algumas religiões que recomendam a "entrega" não a Deus,
mas a mandatários ou representantes "divinos", ou mesmo a congregações
doutrinárias que impõem obediência e subordinação a seus diretores.
Condutas semelhantes acontecem em seitas ou em grupos
dissidentes de uma religião, em que há uma entrega incondicional dos adeptos
ao líder religioso e que resulta, inicialmente, numa suposta sensação de
alegria e satisfação.

Na realidade, quando existe subordinação na nossa "entrega a
Deus", ela não pode ser considerada real, pois, mais cedo ou mais tarde, a
criatura vai notar que está encarcerada intimamente e que lhe falta a
verdadeira comunhão com o Criador.

Viver "em estado de graça" ou em "comunhão com Deus" é estar
perfeitamente harmonizados com nossa natureza espiritual. É a alegria de
repetir com Jesus Cristo: "Eu estou no Pai e o Pai está em mim".
A felicidade é um trabalho interior que quase nunca depende de
forças externas. Deus representa a base da alegria de viver, pois a
felicidade provém da habilidade de percebermos as "verdadeiras intenções" da
ação divina que habita em nós e do discernimento de que tudo o que existe no
Universo tem sua razão de ser.

O homem carrega na sua consciência a lei de Deus, afirmam os
Espíritos Superiores a Allan Kardec. "A lei natural é a lei de Deus e a
única verdadeira para a felicidade do homem. Ela lhe indica o que deve fazer
e o que não deve fazer, e ele não é infeliz, senão quando se afasta dela".
Alegria como experiência de religiosidade é um valor que não tem
preço. Essa sensação da alma, mais do que qualquer outra coisa, contagia e
abranda o coração dos homens.

"Ninguém fica feliz por decreto"; sente imensa satisfação apenas
quem está iluminado pela chama celeste. Rejubila-se realmente aquele que se
identificou com a Divindade e descobriu que "a lei natural é a lei de Deus e
a única verdadeira para a felicidade do homem".

A alegria espontânea realça a beleza e a naturalidade dos
comportamentos humanos. Cultivar o reino espiritual em nós facilita-nos a
aprendizagem de que a alegria real não é determinada por fatos ou forças
externas, mas se encontra no silêncio da própria alma, onde a inspiração
divina vibra incessantemente.








Do livro:  Os prazeres da alma, de Francisco do Espírito Santo Neto - por: HAMMED

sexta-feira, 6 de julho de 2012

A Sabedoria do Silêncio


Fale apenas quando for necessário.
Pense no que vai dizer antes de abrir a boca.
Seja breve e preciso já que cada vez que deixas sair uma palabra,
deixas sair ao mesmo tempo uma parte de seu Chi (energia).
Desta maneira, aprenderás a desenvolver a arte de falar sem perder energia.
Nunca faças promessas que não possas cumprir.
Não te queixes, nem utilizes em seu vocabulário,
palavras que projetem imagens negativas
porque se produzirão ao redor de ti,
tudo o que tenhas fabricado com tuas palavras carregadas de Chi.
Se não tens nada de bom, verdadeiro e útil a dizer,
é melhor se calar e não dizer nada.
Aprenda a ser como um espelho: observe e reflita a energia.
O próprio Universo é o melhor exemplo de um espelho
que a natureza nos deu,
Porque o universo aceita, sem condições, nossos pensamentos,
nossas emoções, nossas palavras, nossas ações,
e nos envia o reflexo de nossa própria energia
através das diferentes circunstâncias
que se apresentam em nossas vidas.
Se te identificas com o êxito, terás êxito.
Se te identificas com o fracasso, terás fracasso.
Assim, podemos observar que as circunstâncias que vivemos
são simplesmente manifestações externas
do conteudo de nossa conversa interna.
Aprende a ser como o universo,
escutando e refletindo a energia
sem emoções densas e sem prejuizos.
Porque sendo como um espelho sem emoções
aprendemos a falar de outra maneira.
Com o poder mental tranquilo e em silêncio,
sem lhe dar oportunidade de se impor
com suas opiniões pessoais
e evitando que tenha reações emocionais excessivas,
simplesmente permite uma comunicação sincera e fluida.
Não te dês muita importância, e sejas humilde,
pois quanto mais te mostras superior,
inteligente e prepotente,
mais te tornas prisioneiro de tua própria imagem
e vives em um mundo de tensão e ilusões.
Sê discreto, preserva tua vida íntima,
desta forma te libertas da opinião dos outros
e terás uma vida tranquila e benevolente
invisivel, misteriosa, indefinivel,
insondável como o TAO.
Não entres em competição com os demais, torna-te como a terra
que nos nutre, que nos dá o necessário.
Ajuda ao próximo a perceber suas qualidades,
a perceber suas virtudes, a brilhar.
O espírito competitivo faz com que o ego cresça
e, inevitavelmente, crie conflitos .
Tem confiança em ti mesmo.
preserva tua paz interior
evitando entrar na provação
e nas trapaças dos outros.
Não te comprometas facilmente,
se agires de maneira precipitada
sem ter consciência profunda da situação,
vais criar complicações.
As pessoas não tem confiança naqueles que muito facilmente dizem “sim”
porque sabem que esse famoso “sim”não é sólido e lhe falta valor.
Toma um momento de silêncio interno
para considerar tudo que se apresenta a ti
e só então tome uma decisão.
Assim desenvolverás a confiança em ti mesmo e a Sabedoria.
Se realmente há algo que não sabes,
ou não tenhas a resposta a uma pergunta que tenham feito, aceite o fato.
O fato de não saber é muito incômodo para o ego
porque ele gosta de saber tudo, sempre ter razão
e sempre dar sua opinião muito pessoal.
Na realidade, o ego nada sabe
simplesmente faz acreditar que sabe.
Evite julgar ou criticar,
o TAO é imparcial em seus juizos
não critica a ninguem,
tem uma compaixão infinita e não conhece a dualidade.
Cada vez que julgas alguem
a única coisa que fazes é expressar tua opinião pessoal,
e isso é uma perda de energia,
é puro ruido.
Julgar, é uma maneira de esconder tuas próprias fraquezas.
O Sábio a tudo tolera, sem dizer uma palavra.
Recorda que tudo que te incomoda nos outros
é uma projeção de tudo que não venceu em ti mesmo.
Deixa que cada um resolva seus problemas
e concentra tua energia em tua própria vida.
Ocupa-te de ti mesmo, não te defendas.
Quando tentas defender-te
na realidade estás dando demasiada importância às
palavras dos outros, dando mais força à agressão deles.
Se aceitas não defender-te estarás mostrando
que as opiniões dos demais não te afetam,
que são simplesmente opiniões,
e que não necessitas convencer aos outros para ser feliz.
Teu silêncio interno o torna impassível.
Faz uso regular do silêncio para educar teu ego
que tem o mal costume de falar o tempo todo.
Pratique a arte do não falar.
Toma um dia da semana para abster-se de falar.
Ou pelo menos algumas horas no dia,
segundo permita tua organização pessoal.
Este é um exercício excelente para conhecer
e aprender o universo do TAO ilimitado,
ao invés de tentar explicar com palavras o que é o TAO.
Progressivamente, desenvolverás a arte de falar sem falar,
e tua verdadeira natureza interna substituirá
tua personalidade artificial, deixando aparecer
a luz de teu coração e o poder
da sabedoria do silêncio.
Graças a esssa força, atrairás para ti tudo que necessitas
para tua própria realização e completa liberação.
Porem tens que ter cuidado para que o ego não se infiltre…
O Poder permanece quando o ego
se mantém tranquilo e em silêncio.
Se teu ego se impõe e abusa desse Poder
o mesmo Poder se converterá em um veneno,
e todo teu ser se envenenará rapidamente.
Fica em silêncio, cultiva teu próprio poder interno.
Respeita a vida dos demais e de tudo que existe no mundo.
Não force, manipule ou controle o próximo.
Converta-te em teu próprio Mestre e deixa os demais serem o que são,
ou o que têm a capacidade de ser.
Dizendo em outras palavras, viva seguindo a vida sagrada do TAO.

sábado, 30 de junho de 2012

Alquimia Interior do Taoísmo - (Nei Dan)


O processo de alquimia interior (Nei Dan) do Taoísmo está entre alguns dos métodos de energia mais poderosas e mais complicadas de toda a tradição oriental. A ânsia dos taoístas para o estudo sistemático da experiência espiritual tem levado, ao longo dos séculos, para desenvolver um sistema altamente especializado de "transmutação" da estrutura da personalidade, cuja fase inicial estão disponíveis para a maioria dos praticantes.




Divisão tradicional do trabalho alquímico é o seguinte (pode haver pequenas variações):

1. Coloque as bases,
2. Refinar a essência Limite e transformá-la em energia,
3. Refinar a energia e transformá-la em Espírito
4. Refinar o Espírito para retornar ao vazio
5. Transmutar o vazio para ir ao encontro do Tao

Eu gostaria de falar sobre as duas primeiras fases de desenvolvimento no trabalho alquímico, e mais tarde com algum detalhe pode aprofundar nas etapas posteriores:
  1. Coloque as bases (ji lian Zhu Yi)
A idéia básica neste nível é aprender a concentrar a mente através de vários sistemas...
Deter o pensamento discursivo (zhinian), regular a respiração (diaoxi).
Na prática taoísta, é essencial para manter uma boa saúde física, mental e emocional, a prática de exercícios físicos (daoyin), métodos de respiração (tuna) e práticas de concentração mental (Cunsi), tais práticas ajudam a proteger os Três Tesouros ( Jing, Qi, Shen – Essência, Energia e Espírito).
Este nível completamente acessível para todos os estudantes é requerido que o praticante gere a “medicina” (Yao) em seu centro energético Datian (que segundo as tradições é localizado em lugares diferentes nos homens e nas mulheres.) Esse é o chamado trabalho dos 100 dias (bai ri gong ling).
A prática básica é chamada "respiração abdominal" (fushi Huxi) que tem algumas nuances que normalmente não são descritos e ensinados o que converte a prática em algo muito interessante e vital.
  1. Refinar a Essência e transformá-la em energia (qi lian hua jing)
Uma vez que a respiração abdominal e as práticas de equilíbrio emocional criaram a "medicina" é passado para a próxima fase, que é para aquecer o núcleo basal (Yuan Jing – relacionada na sua forma mais material com os fluidos sexuais) no forno alquímico (Dantian) e "vaporiza-la" para que se purifique e seja transformada em Qi (energia).
Esta energia se moverá ao longo do canal espinhal (meridiano Du) e descerá na parte frontal do corpo (meridiano Ren) na forma de anel conhecido como “Órbita micro cósmica” (xiao zhou tian).
Para refinar a energia e transformá-la em energia Yang terá de unificar o espírito em energia (shen qi he yi). O ponto chave nesta fase é abrir as "três barreiras" (San guan), localizados no cóccix, no ‘’’meio das costas e nuca que são autênticas portas fechadas para a passagem da energia. Muitos dos exercícios de “Condução energética” (daoyin) estão destinados a desbloquear a passagem do Qi nestas áreas. Se este passo é completado, qualquer consequência subsequente é mínima.
Normalmente, nas mulheres, a prática difere um pouco, e nesta fase é chamada de (lian ye hua qi) (energia transformadora de fluidos).
Devido as diferenças fisiológicas e energética nas mulheres as três portas deverão ser abertas de frente para trás porque a metodologia será específica e a posição empregada é chamada de (kua he). Todos os taoístas dizem, sem hesitação, que a prática da alquimica em mulheres é melhor, muito mais rápido e mais poderoso. Dom Bu'er, um médico famoso taoísta, escreveu vários versos sobre a prática da "alquimica do sexo feminino."

“Há um corpo fora do corpo, que nada tem a ver com qualquer coisa produzida por artes mágicas. Fazer dessa energia; completa consciência é difundi-la, é a chave da vida, ativa, espírito unificado e original.
Esta lua brilhante congela o líquido de ouro, a lótus azul real refina o jade .
Quando você cozinhar a medula do sol e da lua, a pérola se tornará tão brilhante que não haverá o porque se preocupar com a pobreza.” - Dom Bu'er
    3.  Refinar a Energía e transforma-la en Espírito [lian qi hua shen]
No momento da prática da circulação Microcósmica ela se chocará como uma flor a envolver um amplo circulo, relacionado com os "Oito Meridianos Extraordinários", na chamada "Orbita Macrocósmico" (da zhou tian). Sentsações de comunicação com a natureza conectam os praticantes com o Céu e a Terra. Alguns dizem que neste momento é gerado no interior do corpo, que é chamado de "pílula Superior" (ingrediente alquímico restaurador).
    4.  Refinar o Espírito para regressar ao vazio [lian shen huai xu]
Nesta fase da prática, a energia psíquica (Shen) evolui para o chamado "espírito original" (yuan shen). As energias mesclados do estado “posterior ao céu” se restauram num tipo de energia primordial chamada “anterior ao céu” (xian tian). A crença taoista é que um novo nascer dentro de seu próprio interior dá origem a um "corpo estranho ao corpo" (wai shen you ), shen formado exclusivamente por energia yang.
  1. Transmutar o vazío para o encontro com o Tao [lian xu he dao]
As diferenças desaparecem. Não há eu ou os outros, nem dentro nem fora, nem observador nem observado. O corpo espiritual é livre para viajar até os confins do universo.