terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Prometeu e os Direitos do Homem

"a dialética é a suprema dádiva dos deuses, o verdadeiro fogo de Prometeu."
Platão



Arquétipos (do grego, arché + typein = princípio que serve de modelo) são atemporais e universais. Na politeísta cultura grega, deuses e homens, imortais e mortais, interligados, são interdependentes.

Encabeçando o arquétipo de defensor dos direitos da raça humana temos o Titã Prometeu (pro = antes e metheus = vidência, aquele que sabe antes), que criou os homens do barro, feito de terra e de suas próprias lágrimas.

A analogia entre as palavras terra (do latim, humus) e homem é recorrente. Os helenos acreditavam que uma centelha divina, pois imortal, percorria e se aprofundava por toda terra geratriz. E, se simbolizando a história evolutiva do gênero humano, no mito judaico-cristão, Deus é único e supremo criador dos homens, no paganismo grego, é Prometeu o criador e benfeitor da humanidade.

Tanto para as criaturas do Deus de Abraão, quanto para as de Prometeu há um interdito: conhecimento. Que abismo espreita àquele que anseia pura e simplesmente... conhecer? O poder de um intelecto cego e desmedido, falível, é condenável. Ambos referem-se à discórdia inicial entre espírito e matéria, relatam a hýbris (desmedida, a insolente falta de limites), o castigo da queda, arrependimento e reconciliação final.

Quanto à experiência de se estar cônscio do mal e mesmo assim praticá-lo, diz Jung: “Talvez ele [o ser humano] deva experimentar o poder do mal e sofrer-lhe as conseqüências, porque só por este processo pode abandonar a sua atitude farisaica em relação às outras pessoas. Talvez o destino, ou o inconsciente, ou Deus – chamem-lhe o que quiserem – tenha que lhe dar uma boa pancada e fazê-lo rebolar no chão, porque só uma experiência drástica pode surtir efeito, tirá-lo do seu infantilismo, amadurecê-lo. Como pode alguém descobrir de quanto precisa para ser salvo se está absolutamente certo de que não há nada de que deva ser salvo?”.

Filantropo, venerado como sendo uma das divindades civilizatórias (como a deusa da Sabedoria e guardiã da Justiça, Palas Athena e o mestre da techné Hefestos), pioneiro ao atentar para nossas necessidades, Prometeu agiu, desde os primórdios, com irredutível firmeza em defesa da fragilidade da pessoa humana.

Sobre Prometeu, discorreram os apoteóticos poetas Hesíodo, Píndaro, o tragediógrafo Ésquilo (525 ou 524 a 456 a.C.) e seu contemporâneo, o Filósofo Platão. Na maioria das versões, diz-se ser filho de Jápeto com a deusa Thêmis, Justiça divina. Tem como irmãos Atlas, Menoécio e Epimeteu (epí = depois e metheus = ver, saber), seu gêmeo, que pensa somente depois de fazer.

Já sabendo de antemão quem venceria uma grandiosa e inevitável guerra porvir (o próprio nome já denuncia seu caráter oracular), Prometeu se aliou a Zeus contra as divindades mais antigas. Mas, rebelde, o defensor da humanidade nunca escondeu certo ressentimento por esse novo e (em seu entendimento) orgulhoso deus, pois fora também graças a seu empenho que o soberano do Olimpo conquistou seu posto. Aqui, entrevemos ser antiga a relutância do homem em se submeter. Há essa negação ao “superior”. O deus não é visto como representante da justiça inerente, mas como temível inimigo.

Em Píndaro, Zeus encarrega Prometeu de distribuir os dons e mecanismos de defesa entre todos os animais, inclusive aos homens. Atarefado, Prometeu atende ao apelo de seu irmão Epimeteu, que insiste em se incumbir da missão. Eis que Epimeteu se empolga: garras, presas pontiagudas, força, velocidade, acuidade visual, auditiva, faro excepcional, aptidão para se metamorfosear, de adentrar subitamente ao solo, de elevar-se aos ares, pelagem espessa, carapaças, condições para respirar dentro d’água e tantas outras qualidades foram dispersadas a torto e a direito.

Banalizando preciosas aptidões, Epimeteu, como o próprio nome diz, não se detém a pensar, não reflete antes de agir e, esquecido dos homens, exagera na dádiva a alguns animais (que além de força, ganharam também velocidade e presas dilacerantes, como os leões e os guepardos). Consumidos todos os recursos, quando chega nossa vez, bípedes implumes, somos deixados nus, frágeis e indefesos.

Quando Prometeu foi conferir a tarefa, constatando o estrago, lamentou profundamente a insensatez do irmão: e agora? O que seria dos homens, tão limitados em suas capacidades físicas? Desprotegidos, tornar-se-iam presas fáceis para inúmeros predadores tão bem guarnecidos. Prevendo o aniquilamento de sua criação, contrariando os ditames de Zeus, que já havia lhe negado um apelo seu dessa natureza, Prometeu rouba o fogo divino (conhecimento) e dá-lhes às suas criaturas, assegurando assim a superioridade dos homens sobre os demais animais. Zeus não tarda a enviar Pandora como castigo.

O progresso da humanidade se deve à capacidade dos homens de, aconchegados em torno do calor do fogo, tornarem-se sociáveis. Desse modo, descobrimos e compartilhamos a linguagem, os números, o movimento dos astros, a memória, pudemos enfim, “pensar antes” de agir: preparamos alimentos, tecemos vestimentas, confeccionamos tigelas e tijolos, construímos casas, fundimos ouro, prata e ferro, aramos a terra, cultivando o sustento. Mas, infelizmente, mesmo providos de inteligência, vontade, astúcia, avidez, coragem e de tantas outras qualidades, os homens eram miseráveis, pois lhes faltava a política, qualidade necessária para que se relacionassem harmoniosamente entre si.

Sem união na pólis não se consegue vencer as adversidades, promover o Bem comum: “E, ao tentar se reunirem em grupo, a anarquia reinante fazia de todos inimigos e vítimas de querelas militares”. Acumulando cada vez mais informações, detendo inúmeros conhecimentos, mas ainda sem sabedoria, os homens passaram a se autodestruir, tornando todo ambiente insustentável.

A arte de viver em conjunto, ser “zoopolitikon” para Platão, é indispensável para o progresso das cidades e para a instituição de um governo virtuoso e justo, enfim, para o bem da própria humanidade.

Cada vez mais confiantes num intelecto puramente “científico” como sendo “a Verdade”, incendiados por vanglórias (hýbris), os homens afrontavam os deuses, já não os invocavam nem rogavam por sua proteção. Orgulhavam-se de haver cada vez menos diferença entre eles e os imortais. A felicidade humana já não dependia do acaso, do destino, de caprichos divinos. Prometeu finalmente criara oponentes ingenuamente crentes de estarem à altura (ou acima?) de Zeus. Como lhe disse Oceano, o parentesco influi e muito: os Titãs estavam vingados!

Em Ésquilo, mesmo sofrendo severa punição, o benfazejo não se dobra. Por ter desrespeitado a advertência de Zeus, Prometeu é condenado a 30 mil anos de prisão. Acorrentado a uma rocha (simbolizando a matéria) no Cáucaso, todos os dias uma águia vem bicar-lhe o fígado, regenerado durante as noites.

Paira, até hoje, o suspense insinuado por Prometeu: de que Zeus ainda será ser destronado por um dos seus filhos. Ameaçado, é coagido a falar sobre o que viu, mas se recusa terminantemente a dizer: “Nada, força nenhuma pode constranger-me a revelar-lhe o nome de quem deverá destituí-lo de seus poderes tirânicos!”. 

Esquecido, sua grande dor é constatar que, vaidosos, bélicos e também como ele, extremamente presos à matéria, os seres humanos, mesmo animados pelo fogo/conhecimento divino, possuem um espírito ressentido, guiado por um intelecto revoltado. Com a imaginação assim exaltada, não mais os surpreende sucumbir à perversão. Seja como opressores ou como oprimidos, se degradam em sua própria efemeridade.

Com consentimento de Zeus, Hércules mata a águia e graças à intervenção do centauro Quíron, Prometeu finalmente se reconcilia com o ordenador do Cosmos, encontrando paz.

Preocupado com a insolência (hýbris) humana que poderia antecipar-lhes o aniquilamento ou algo pior (a profecia de Prometeu se cumprirá?), Zeus delegou a seu mensageiro Hermes a tarefa de distribuir igualmente entre todos os homens pudor e justiça. Disse ainda que aqueles que não os tivessem, por estarem contra o princípio unificador da sociedade, deveriam morrer. O que o arauto dos Direitos do Homem queria era assegurar-nos a dignidade da liberdade. Somos livres. Mas sem pudor (aidós = vergonha, respeito) e justiça não se ascende ao Olimpo.

Luciene Félix

Professora de Filosofia e Mitologia Greco-Romana da ESDC

domingo, 18 de dezembro de 2011

Tome DECISÕES em sua vida Agora e Já!

Queira! (Queira!)
Basta ser sincero
E desejar profundo
Você será capaz
De sacudir o mundo
Vai!
Tente outra vez! 


1. Lembre o verdadeiro poder de tomar decisões
. É um instrumento que você pode usar a qualquer momento. No instante em que é tomada uma nova decisão, entra em movimento uma nova causa, efeito, direção e destinação para a sua vida. Literalmente, você começa a mudar sua existência no momento em que toma uma nova decisão.
Lembre-se disso quando começar a se sentir sufocado ou a achar sue não tem opções, ou quando as coisas estiverem acontecendo com você é capaz de mudar tudo, se parar e decidir fazê-lo. Lembre-se de que uma verdadeira decisão é medida pelo fato de você ter agido. Se não há ação, você não decidiu realmente.

2. Compreenda que o passo mais difícil para conseguir alguma coisa é empenhar-se de fato — uma decisão verdadeira. Realizar aquilo a que você se comprometeu, muitas vezes, é mais fácil que a decisão em si, e assim tome suas decisões com inteligência, mas depressa. Não se demore a vida toda a debater como fazer ou se fazer. Estudos têm demonstrado que as pessoas mais bem-sucedidas tomam decisões depressa porque não têm dúvidas a respeito dos seus valores e do que realmente desejam para suas vidas. Os mesmos estudos mostram que são lentas para mudar suas decisões, se é que as mudam.
Por outro lado, as pessoas que fracassam usualmente tomam suas decisões devagar, e mudam de idéia depressa, sempre pulando para a frente e para trás. Decida-se! Compreenda que a tomada de decisão é um tipo de ação por si só, de modo que uma boa definirão para decisão seria “agirem cima da informação”. Você sabe quando tomou verdadeiramente uma decisão quando uma ação decorre dela. Torna-se uma causa posta em movimento. Com freqüência, como resultado de uma decisão, consegue-se atingir objetivos maiores. Uma regra importante que estabeleci para mim mesmo é nunca deixar a cena de uma decisão sem primeiro realizar uma ação específica para sua realização.

3. Tome decisões com freqüência. Quanto mais decisões você toma, melhores elas são. Os músculos se fortalecem com o uso, e o mesmo acontece com os seus músculos de tomar decisões. Libere seu poder agora mesmo, tomando alguma decisão que venha adiando. Não vai acreditar na energia e na animação que isso criará em sua vida!

4. Aprenda com suas decisões. Não há como negar. Às vezes você vai estragar tudo, independente do que faça. E quando acontecer o inevitável, em vez de punir-se, aprenda algo. Pergunte a si próprio: “O

que há de bom nisso tudo? O que posso aprender com o que aconteceu?” Esse “fracasso” poderá ser uma dádiva maravilhosa disfarçada, se você usá-lo para tomar decisões melhores no futuro. Em vez do foco no revés de curto prazo, focalize em aprender lições que possam poupar-lhe tempo, dinheiro ou dor, e que lhe dêem a capacidade de vencer no futuro.

5. Comprometa-se com suas decisões, mas seja flexível na execução. Uma vez que decidiu o que quer ser como pessoa, por exemplo, não fique imobilizado pensando em como chegar lá. É o fim que interessa. Com freqüência, ao decidir o que querem para si, as pessoas escolhem a melhor rota que conhecem na época elas fazem um mapa mas não permanecem abertas para rotas alternativas. Não seja rígido. Cultive a arte de flexibilidade.

6. Desfrute tomar decisões. Você deve saber que a qualquer momento uma decisão pode mudar o curso de sua vida para sempre: a pessoa que está atrás de você na fila, ou sentada ao seu lado no avião, o próximo telefonema que você dá ou recebe, o próximo filme, livro ou página que virar, qualquer uma dessas coisas poderá fazer com que as comportas se abram, e todas as coisas pela quais você esperava se encaixem nos respectivos lugares.
Se você realmente quer que sua vida seja passional, precisa viver com essa atitude de expectativa. [...]

Qual é então a distinção mais importante a tirar deste capítulo? Saiba que são suas decisões, e não suas condições, que determinam seu destino. Antes que aprendamos a tecnologia para mudar como se pensa e como se sente cada dia de sua vida, quero que você se lembre que, em última análise, tudo o que leu neste livro é inútil... todo outro livro que você já leu, ou gravação que ouviu, ou seminário a que compareceu, tudo é inútil... a menos que você decida usar o que aprendeu. Lembre-se de que uma decisão verdadeiramente comprometida é a força que muda a sua vida. É um poder que estará disponível para você a qualquer momento em que resolver usá-lo.
Prove a si próprio que você decidiu agora. Tome uma ou duas decisões, dessas que vinha protelando há muito tempo. Escolha uma fácil e outra um pouco mais difícil. Mostre a si próprio aquilo que é capaz de fazer. Agora, neste exato momento. Pare. Tome pelo menos uma decisão bem definida, aquela que vem protelando há muito tempo tome a primeira medida no sentido de realizá-la e não a abandone!
Ao fazer isto estará exercitando o músculo que lhe dará a vontade para mudar toda a sua vida. [...]
O espírito humano é verdadeiramente inconquistável. Mas a vontade de vencer, a vontade de obter sucesso, de moldar a própria vida, de assumir o controle, só pode ser aproveitada quando você decide o que quer, e crê que nenhum desafio, nenhum problema, nenhum obstáculo poderá detê-lo. Quando você decidir isso, sua vida passará a ser formulada não pelas condições, mas por suas decisões e, neste instante, ela mudará para sempre, e você poderá assumir o controle!

domingo, 11 de dezembro de 2011

Viva! Na Sociedade Alternativa




Num planeta cada vez mais globalizado como estruturam os seres humanos a sociedade em macros e micros organizações, a diversidade de culturas, ideologias, religiosidades e comportamentos quase que infinitos é possível que classificássemos como um caos instalado na Terra.
Ainda bem que assim como na química as moléculas se ajustam por afinidade e atração, o mesmo acontece na sociedade humana, onde nos vemos reunidos em clubes, garagens de rock, rodas de samba, igrejas, cafés literários, mesas de poker's...
A questão que quero chegar é, nesse mundo onde tudo é diverso e as alternativas são muitas, como é que fica a principal pergunta que tem de ser respondida cedo ou tarde por cada individuo membros dessa sociedade; Qual o sentido da vida?

Segundo Jean-Paul Sartre, a vida não é nada até que o homem comece a vivê-la, construindo-a. Além de viver e construir a própria vida, o homem ainda tem de lhe dar algum sentido, pois ela não tem um sentido a priori. Por tais razões, conclui o existencialismo humanista de Sartre, o homem é mesmo o legislador de si próprio.

A letra da música de Raul Seixas, "Sociedade Alternativa", pode até parecer alarmar anarquismo, mas compreendo que o sentindo funcional que ela propõe é essa do homem ser senhor de si mesmo em suas ações, re-ações e responsabilidades.
Podemos ficar inertes a esperar Papai-noel ou movimentar o fluxo da vida com estudos, debates, projetos e principalmente execuções.
Acima de tudo é preciso enxergar, ler, compreender sentidos em toda alternatividade que as sociedades nos oferecem, mesmo que essas alternativas não tenha aplicação para a nossa vida, ela têm e é importante para o próximo que está ao nosso redor, ela é importante porque contribui para o equilíbrio social; se esse fosse um pensamento difundido e apreciado pela grande maioria das pessoas, não haveriam guerras, ataques ideológicos, psíquicos. A inflexibilidade que muitas das pessoas tem em enxergar a beleza da diversidade e a capacidade de ativar em seu psiquismo algo como verdade absoluta é o grande mal do homem e por tabela da sociedade.
Gosto muito de usar a visualização da árvore indo facilmente em todas as direções que os movimentos acionam em sua biodiversidade estrutural de folhas, flores, frutos, raízes; (flexibilidade e Força em conjunto, essa é a lei do Forte!) e a da árvore morta, rígida que num vento mais forte onde galhos e tronco lutam em resistência para não tombar e quebrarem, são fracas, opacas,  não proporcionam alegria ao mundo, nela não existe beleza, ser incinerada no fogo é o seu destino final.




Faça o que tu queres pois é tudo da lei!
Amor é a lei. Amor sob Vontade!!


Viva a Sociedade Alternativa!!!

Trigo.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Velhos hábitos

“... O corpo não dá cólera àquele que não a tem, como não dá os outros vícios; todas as virtudes e todos os vícios são inerentes ao Espírito; sem isso, onde estariam o mérito e a responsabilidade?...”
(Capítulo 9, item 10.)

Em primeiro lugar, é necessário conceituar que vícios são dependências vigorosas e profundas de uma pessoa que se encontra sob o controle de outras ou de determinadas coisas.
Portanto, deve ser considerado como vício não apenas o consumo de tóxicos e de outros produtos de origem natural ou sintética. O conceito é mais amplo. Analisando-o em profundidade, podemos interpretá-lo como atitude mental que nos leva compulsoriamente à subjugação a pessoas e situações.
Muitos de nós aprendemos a ser dependentes desde cedo, dirigidos por adultos superprotetores que nos imprimiram clichês psíquicos de repressão, que se refletem até hoje como mensagens bloqueadoras dentro de nós e que não nos deixam desenvolver o senso de autonomia e de independência. Outros trazem enraizadas experiências em que lhes foi negada a possibilidade de exercer a capacidade de seleção de amigos e parceiros afetivos, em virtude da intervenção de adultos prepotentes. Essa nociva interferência torna-os mais tarde indivíduos de caráter oscilante, indecisos, assustados e inseguros. Outros ainda, por terem sofrido experiências conflitantes em outras encarnações, em contato com criaturas de-sequilibradas e em clima de inconstância e desarmonia, são predispostos a renascer hoje com maior identificação com a instabilidade emocional.
Dessa forma, entendemos que os fatores que propiciam os vícios e as compulsões ocorrem em ambientes familiares-sociais desarmônicos, desta ou de outras encarnações, onde deixamos as pressões, traumas, coações, desajustes e conflitos se enraizarem em nossa zona mental ou perispiritual, porquanto os vícios não passam de efeitos externos de nossos conflitos internos.
Vale ressaltar que nossa sociedade, a rigor, é extremamente machista, razão pela qual muitas mulheres foram educadas para aceitar comportamentos dependentes como sendo virtudes femininas, o que as leva a viver dentro de demarcações estreitas do que elas devem ou podem fazer.
O vício do álcool, sexo, nicotina, jogos diversos ou drogas farmacológicas são formas amenizadoras que compensam, momentaneamente, áreas frágeis de nossa alma desestruturada.
Aliviam as carências, as ansiedades, os desajustes, as tensões psicológicas e reduzem os impulsos energéticos que produzem as insatisfações e o chamado mal-estar interior.
Pode parecer que as opções vício-dependência disfarcem ou abrandem a pressão torturante, porém o desconforto permanece imutável.
O álcool e a droga são sedativos ou analgésicos, mas por acarretar gravíssimas conseqüências, são denominados vícios autodestrutivos. A comida é uma dependência considerada, de início, vicio neutro, para, depois, transformar-se numa opção de fuga negativa e profundamente desorganizadora do nosso corpo físico-psíquico.
Há manias ou vícios comportamentais tão graves e sérios que nos levam a ser tratados e considerados como pessoas de difícil convivência, isto é, inconvenientes:

— Vício de falar descontroladamente, sem raciocinar, desconectando-nos do equilíbrio e do bom senso.
— Vício de mentir constantemente para nós mesmos e para os outros, por não querermos tomar contato com a realidade.
— Vício de nos lamentarmos sistematicamente, colocando-nos como vítima em face da vida, para continuarmos recebendo a atenção dos outros.
— Vício de nos acharmos sempre certos, para podermos suprir a enorme insegurança que existe em nós.
— Vício incontido de gastar desnecessariamente, sem utilidade, a fim de adiarmos decisões importantes em nossa vida.
— Vício de criticar e mal julgar as pessoas, para nos sentirmos maiores e melhores que elas.
— Vício de trabalhar descontroladamente, sem interrupção, para nos distrairmos interiormente, evitando desse modo os conflitos que não temos coragem de enfrentar.

Inquestionavelmente, as chamadas viciações resultam do medo de assumir o controle de nossa vida e, ao mesmo tempo, do medo de nos responsabilizarmos por nossos atos e atitudes, permitindo que eles fiquem fora de nosso controle e de nossas escolhas.
Quaisquer que sejam, contudo, os motivos e a origem de nossos velhos hábitos, urge estabelecermos pontos fundamentais, a fim de que comecemos indagando por que somos dependentes emocionalmente e ―qual é a forma de nos relacionarmos com essa dependência.
Aqui estão alguns itens a ser também observados e que provavelmente nos ajudarão a ser mais independentes, além de capazes de satisfazer nossos desejos e vocações naturais. Ao mesmo tempo, nos permitirão estar junto a pessoas e situações sem tomar-nos parcial ou totalmente dependentes delas:

— Aguçar nossa capacidade de decidir, de optar e de escolher cada vez mais livre das opiniões alheias.
— Combater nossa tendência de ser bonzinhos, ou melhor, de desejar ser sempre agradáveis aos outros, mesmo pagando o preço de nos desagradar.
— Estimular nossa habilidade de dizer não, quantas vezes forem necessárias, desenvolvendo assim nosso ―senso de autonomia, a fim de não cair nos modismos ou pressões grupais.
— Estabelecer no ambiente familiar um clima de respeito e liberdade, eliminando relações de superdependência simbióticas, para que possamos ser nós mesmos e deixemos os outros ser eles mesmos.
— Criar padrões de comportamentos positivos, pois comportamentos são hábitos, e nossos hábitos determinam a facilidade de aceitarmos ou não as circunstâncias da vida.
— Conscientizar-nos de que somos seres humanos livres por natureza, mas também responsáveis por nossos atos e pensamentos, pois recebemos por herança natural o livre-arbítrio.
— Cultivar constantemente o autoconhecimento:
— reforçando nossa visão nos traços de nossa personalidade que já conhecemos;
— buscando nossos traços interiores, que ainda nos são desconhecidos;
— analisando as opiniões de outras pessoas que, ao contrário de nós, já conhecemos nosso perfil psicológico;
— aceitando plenamente nosso lado inadequado, sem jamais escondê-lo de nós mesmos e dos outros, tentando, porém, equilibrá-lo.
Meditemos, pois, sobre essas ponderações que, com certeza, nos ajudarão a libertar-nos dessas necessidades constrangedoras, cujas verdadeiras matrizes se encontram na intimidade de nós mesmos.

Livro: Renovando Atitudes, cap 34. Francisco do E. Neto pelo Espírito Hammed.