quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Silêncio e Sonhos



Nos momentos mais tensos da sua vida, em vez de reagir, procure a voz do silêncio. Psiquiatras, psicólogos, intelectuais, generais, enfim, qualquer ser humano, que não ouve essa voz, obstrui sua inteligência, tem atitudes absurdas, fere quem mais merece de seu carinho.
Devemos gravar isso: nos 'primeiros trinta segundos de tensão cometemos os maiores erros de nossas vidas. Nos focos de tensão bloqueamos a memória e reagimos sem pensar, por instinto. Neste caso, ohomo bios (animal) prevalece sobre o homo sapiens (pensante).
Quando usamos as palavras para compreender as raízes do medo e enfrentar seus tentáculos, o medo é reeditado, pois novas experiências são acrescentadas nas janelas da memória onde eles se encontram. O medo se torna nutriente da coragem.
Precisamos sonhar com uma espécie mais feliz. Precisamos abraçar as pessoas diferentes. Precisamos dizer todos os dias que não somos americanos, brasileiros, judeus, árabes, somos seres humanos. Precisamos nos convencer, ainda que demore décadas, que a vida é um espetáculo imperdível.
Fragmentos do Livro: Nunca desista dos Seus Sonhos. - Augusto Cury

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Pã está morto.

O homem de hoje está faminto e sedento de uma relação segura com as forças psíquicas dentro de si mesmo. Sua consciência, recuando em face das dificuldades do mundo moderno, carece de um relacionamento com condições espirituais seguras. Isso o fará neurótico, doente, assustado. A ciência disse-lhe que não existe Deus, que tudo o que existe é matéria. Isso privou a humanidade de sua floração plena, de sua sensação de bem-estar e de segurança num mundo confiável.
Na medida em que o homem moderno é compelido a voltar-se para si mesmo, tomado de dúvida e medo, ele olha para a sua própria vida psíquica, a fim de que lhe dê algo de que sua vida exterior o privou. Em virtude do atual interesse generalizado por toda a espécie de fenômenos psíquicos — um interesse como o mundo não conhecia desde a segunda metade do século XVII — não parece fora do alcance da possibilidade acreditar que estejamos no limiar de uma nova época espiritual; e que, das profundezas da própria vida psíquica do homem, nascerão novas formas espirituais.

Olhamos o mundo à nossa volta, e que vemos? A desintegração de muitas religiões. É geralmente admitido que as igrejas não estão dominando as pessoas como outrora, especialmente as pessoas educadas, que não sentem mais serem redimidas por qualquer sistema de teologia. O mesmo se vê nas antigas religiões institucionais do Oriente: o confucionismo e o budismo. Metade dos templos de Pequim estão vazios. Em nosso mundo ocidental, milhões de pessoas não vão à igreja. Só o protestantismo se desmembrou em quatrocentas seitas religiosas.
Então em que se converteu? Para onde foi? A resposta é que está no inconsciente do homem. Pode-se dizer que desceu para um andar inferior.




O homem civilizado, em seus sonhos, revela a sua necessidade espiritual. Quando a ciência moderna desinfetou o céu, não encontrou Deus. Alguns cientistas dizem que a ressurreição de Jesus, o nascimento no ventre de uma virgem, os milagres — todas essas coisas que alimentaram o pensamento cristão ao longo das eras, são belas histórias, mas inverídicas. Mas eu digo: Não esqueçam o fato de que essas idéias que milhões de homens alimentaram de gerações em gerações são grandes e eternas verdades psicológicas.

Voltem o olho da consciência para dentro, a fim de ver o que aí existe. Vejamos o que se pode fazer em pequena escala. Se eu plantei corretamente uma couve, então servi o mundo nesse exato lugar. Não sei que mais posso fazer.
Examinem os espíritos que falam em vocês. Tornem-se críticos. O homem moderno deve estar plenamente cônscio dos terríveis perigos que residem nos movimentos de massa. Escutem o que o inconsciente diz. Prestem atenção à voz desse Grande Ancião dentro de vocês, que viveu tanto tempo, viu e experimentou tanto. Tentem compreender a vontade de Deus: a extraordinariamente potente força da psique.


A latência é, provavelmente, a melhor condição para o inconsciente. Mas a vida saiu das igrejas e nunca mais voltará a elas. Os deuses não se reinstalarão em domicílios que abandonaram uma vez. A mesma coisa aconteceu antes, na época dos Césares romanos, quando o paganismo estava agonizante. De acordo com a lenda, o capitão de uma embarcação que passava entre duas ilhas gregas ouviu um grande som de lamentação e uma voz gritando: Pan ho megas tethneken, o Grande Pã está morto. Quando esse homem chegou a Roma solicitou uma audiência com o imperador, tão importante era a notícia. Originalmente, Pã era um espírito secundário da natureza, principalmente ocupado em apoquentar os pastores; mas, depois, quando os romanos se envolveram mais com a cultura grega, Pã foi confundido com To Pan que significa "o Todo". Passou então a ser o Demiurgo, o anima mundi. Assim, os numerosos deuses do paganismo foram concentrados em um Deus. Então veio a mensagem, "Pã está morto". O Grande Pã, que é Deus, está morto. Somente o homem permanece vivo. Depois, o Deus uno transformou-se em homem, e esse foi o Cristo; um homem para todos os homens. Mas agora também esse partiu, agora cada homem tem que conter Deus em si. A descida do espírito na matéria está completa.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Os Grandes do Tao


Há algo completamente entorpecido
Anterior à criação do céu e da terra
Quieto e êrmo
Independente e inalterável
Move-se em círculo e não se exaure
Pode-se considerá-lo a Mãe sob o céu
Eu não conheço seu nome
Chamo-o de Caminho
Esforçando-me por denominá-lo, chamo-o de Grande
Grande significa Ir
Ir significa Distante
Distante significa Retornar
O Caminho é grande
O céu é grande
A terra é grande
O rei [3]
Dentro do universo há quatro grandes, e o rei é um deles
O homem se orienta pela terra
A terra se orienta pelo céu
O céu se orienta pelo Caminho
O Caminho se orienta por sua própria natureza que é grande.

[3] WANG: Rei-Celeste (Deus-onipotente); simboliza a Consciência Real que está em toda parte.


domingo, 14 de agosto de 2011

A Arte do Coração


A maioria das pessoas está obcecada pela mente.
Nossa civilização tem uma fixação pela mente porque ela foi responsável por todos os avanços tecnológicos, e para nós isso resume tudo.
O que o coração pode dar?
Com certeza, nada high-tech, nada industrial ou capaz de gerar dinheiro.
Mas pode nos proporcionar alegria, celebração e também uma enorme sensibilidade para a beleza, a música e a poesia.
Além disso, é capaz de guiá-lo no mundo do amor e da oração, mas essas coisas não dão dinheiro.
Você não pode aumentar a sua conta bancária usando apenas o coração, nem lutar em grandes guerras, assim como não pode produzir bombas atômicas nem destruir as pessoas pelo coração.
O coração sabe criar, enquanto a mente é destrutiva e, infelizmente, nossa educação ficou presa à mente.
A menos que a raça humana atinja um equilíbrio entre o coração e a mente, continuaremos sofrendo.
À medida que nos tornamos mais centrados na mente e, por outro lado, cada vez mais alheios ao coração, nosso sofrimento tende a aumentar.
Somos responsáveis por criar um inferno na Terra e só pioramos essa situação.
O paraíso pertence ao coração.
Ainda assim, ninguém entende mais essa linguagem.
O coração foi completamente esquecido.
Somos capazes de compreender a lógica, não o amor.
Compreendemos a matemática, não a música.
Nós nos tornamos cada vez mais acostumados às coisas mundanas e ninguém parece ter coragem de trilhar os percursos do desconhecido, os labirintos do amor e do coração.
Entramos em sintonia com o mundo da prosa, e a poesia acabou se tornando insignificante.
O poeta morreu.
De um lado está o cientista – pronto para destruir toda a vida na terra.
Do outro lado, não muito distante, estão místicos como Buda, Jesus, Zaratrusta e Kabir.
Eles não têm poder algum, ao menos não no sentido que compreendemos o poder, mas são extremamente poderosos de uma forma totalmente diferente.
Infelizmente, nada mais abemos a respeito dessa linguagem.
Tudo que há de criativo no homem está sendo reduzido à produção cada vez maior de “coisas”.
A criatividade está perdendo seu apelo, e a produtividade se transforma no principal objetivo da vida.
Em vez de criatividade, valorizamos a produtividade: discutimos como produzir mais, mas esquecemos que isso nos proporciona apenas coisas, não valores.
As pessoas podem se tornar ricas exteriormente, mas continuam pobres, mendigas internamente.
A produção se preocupa apenas com a quantidade, enquanto a criação se preocupa com a qualidade.
Perceba que a produção não exige capacidade de criação, ela é medíocre: qualquer imbecil pode se dedicar a ela, basta aprender alguns truques básicos.
Quando falo em criatividade, estou me referindo algo totalmente diferente.
Olhe o Taj Mahal ou outros Templos Indianos. Observe-os em uma noite de lua cheia e uma grande meditação surgirá dentro de você.
As grandes catedrais católicas representam a terra buscando alcançar o céu.
Basta observá-las e uma canção surgirá em seu coração, ou um grande silêncio o cercará.
Todos eles são milagres da criatividade.
O ser humano perdeu seu lado poético, seu impulso criativo.
Nós estamos demasiadamente interessados em produtos, em novidades eletrônicas, em produzir cada vez mais coisas.
É fundamental trazer de volta o coração e o amor à natureza.
Precisamos prestar mais atenção às rosas, às flores de lótus, às árvores, às rochas e aos rios.
Precisamos recomeçar a dialogar com as estrelas...
OSHO

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Não Identificar-se

“Você não se dá conta de sua própria situação. Você está na prisão.
Tudo o que pode desejar, se você for sensato, é escapar (...) Além disso, ninguém pode escapar da prisão sem a ajuda daqueles que” já escaparam “, (...) cada prisioneiro pode encontrar um dia sua oportunidade de evasão, com a condição, entretanto, de que saiba dar-se conta de que está na prisão”. “A evolução do homem é a evolução de sua consciência. E a consciência não pode evoluir inconscientemente. A evolução do homem é a evolução de sua vontade e a vontade não pode evoluir involuntariamente”. “O estudo de si deve seguir lado a lado com o estudo das leis fundamentais do Universo”.


“Todas essas pessoas que vêem, que conhecem que podem vir a conhecer, são máquinas, verdadeiras máquinas trabalhando apenas sob a pressão das influências exteriores, (...) Sim. É possível deixar de ser máquina, (...) quando uma máquina se conhece, desde esse instante deixou de ser máquina.
Pelo menos não é a mesma máquina que antes. Já começa a ser responsável por suas ações”. “O controle das coisas exteriores começa pelo controle do que está dentro de nós, pelo controle de nós mesmos”.“Entre as metas expressas, a mais justa é sem dúvida a de ser senhor de si mesmo, porque sem isso, nada mais é possível. E, em comparação com essa meta, todas as outras são apenas sonhos infantis, desejos de que um homem não poderia fazer o menor uso, desde que fosse atendido”.
“A identificação é o obstáculo principal à lembrança de si. A liberdade significa antes de tudo: libertar-se da identificação”. “Cada homem normal tem energia suficiente para começar o trabalho sobre si. É necessário apenas que aprenda a economizar a energia de que dispõe. A energia é despendida, sobretudo, pelas emoções inúteis e desagradáveis, pela expectativa ansiosa de coisas possíveis e impossíveis, pelo mau humor, pelas pressas inúteis, pelo nervosismo, irritabilidade, devaneio e assim por diante”.




Palavras de Gurdjieff

domingo, 7 de agosto de 2011

O Riso

Acho que, na maioria dos casos, quando uma pessoa se ri torna-se nojento olharmos para ela. Manifesta-se no riso das pessoas, na maioria das vezes, qualquer coisa de grosseiro que humilha a quem ri, embora essa pessoa quase nunca saiba que efeito o seu riso provoca. Tal como não sabe (ninguém sabe, aliás) a cara que faz quando dorme. Há quem mantenha no sono uma cara inteligente, mas outros há que, embora inteligentes, fazem uma cara tão estúpida a dormir que se torna ridícula.
Não sei por que tal acontece, apenas quero salientar que a pessoa que ri, tal como a pessoa que dorme, não sabe a cara que faz. De uma maneira geral, há muitíssimas pessoas que não sabem rir. Aliás, isso não é coisa que se aprenda: é um dom, não se pode aperfeiçoar o riso. A não ser que nos reeduquemos interiormente, que nos desenvolvamos para melhor e que superemos os maus instintos do nosso carácter: então também o riso poderá possivelmente mudar para melhor. A pessoa manifesta no riso aquilo que é, é possível conhecermos num instante todos os seus segredos.

Mesmo o riso incontestavelmente inteligente é, às vezes, abominável. O riso exige em primeiro lugar sinceridade, mas onde está a sinceridade das pessoas? O riso exige a ausência de maldade, mas as pessoas, na maioria dos casos, riem com maldade. Um riso sincero e sem maldade é uma pura alegria, mas, nos tempos que correm, onde está a alegria? E poderão as pessoas ser alegres?
A alegria é um dos mais reveladores traços humanos, basta a alegria para revelar as pessoas dos pés à cabeça. Por vezes não há meio de percebermos o carácter de uma pessoa, mas basta ela rir para lhe conhecermos o feitio como às palmas das nossas mãos. Só as pessoas desenvolvidas do modo mais elevado e feliz sabem ser contagiosamente alegres, de uma maneira irresistível e benévola. Não falo de desenvolvimento intelectual, mas de carácter, do homem como um todo. Portanto: se quiserdes compreender uma pessoa e conhecer-lhe a alma não presteis atenção à sua maneira de se calar, ou de falar, ou de chorar, ou de se emocionar com as ideias mais nobres, olhai antes para ela quando se ri. Ri-se bem - é boa pessoa.

Observai depois todos os matizes: por exemplo, é preciso que o riso não pareça estúpido, por mais alegre e ingénuo que seja. Mal detecteis a mais pequena nota de estupidez num riso, ficai sabendo que a pessoa que assim ri é intelectualmente limitada, apesar de deitar cá para fora um sem-fim de ideias. Mesmo que o riso não seja estúpido, se vos parecer ridículo, nem que seja um pouquinho, ficai sabendo que não há na pessoa que o ri uma verdadeira dignidade, pelo menos uma dignidade suficiente. Por último, notai que, mesmo que um riso seja contagioso mas por qualquer razão vos pareça vulgar, também a natureza dessa pessoa é vulgar, que toda a nobreza e espírito sublime que tínheis visto nela ou são fingidos ou imitados inconscientemente, e que essa pessoa, no futuro, mudará inevitavelmente para pior, dedicar-se-á ao «útil», abandonando sem pena as ideias nobres como sendo erros e paixões da juventude.

(...) Apenas entendo que o riso é a mais certeira prova da alma. Olhai para uma criança: só as crianças sabem rir com perfeição, por isso são fascinantes. É abominável a criança que chora, mas a que ri alegremente é um raio do paraíso, é o futuro do homem quando ele, finalmente, se tornar tão puro e ingênuo como uma criança.

 


Fiodor Dostoievski, in 'O Adolescente'