quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A arte de morrer

Por: Celso Junior e Monja Coen Sensei


CONGRESSO INTERNACIONAL DO MEDO

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas, cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas, cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte, depois morreremos de medo e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

 Carlos Drummond de Andrade
[do livro Sentimento do mundo.]




Temos conhecimento que no final do século XIX e início do século XX uma série de tentativas em esclarecer o fenômeno da morte, mas ao tentar desvendá-la ou entendê-la, veremos que muitas dessas teorias vão na realidade torná-la mais enigmática do que antes, aprofundando mais ainda a sua negação e o sentimento de medo.
Ao fazermos um retrospecto sobre as maneiras como a humanidade tem lidado com esse tema, somos tomados de assalto por várias dúvidas e perguntas aparentemente sem respostas ao longo da História. O que diremos sobre os entendimentos religiosos tradicionais? Os relatos de milhares de testemunhos de sobrevivência após a morte? São eles e outras experiências como as experiências quase morte, meras fantasias de projeções psicológicas, de auto-satisfação ou afirmação do ego ou pura e simplesmente o resultado de reações neurobioquímicas? Essas teorias conseguem dar conta de todos os fatos e de todas as anomalias? Os vários conceitos de vida pós-morte têm alguma base na realidade?
Não será possível entrar em detalhes ou me aprofundar em cada um dos temas acima, mas me proponho a traçar algumas reflexões:

Nada surge por si só. E tudo está incessantemente se transformando. Somos essa transformação!
Em cada instante nascem e morrem células em nosso corpo.
No corpo Terra nascimento-morte é incessante. No corpo universo ou multiverso, pluriverso, também. É impossível cessar o movimento, a atividade. Mas nós humanos temos a condição de compreender um pouco além de nós mesmos. Acessar a essa sabedoria é encontrar a libertação do ciclo de nascimento-velhice-doença-morte.

Libertar-se da morte é entrega e aceitação.

Isso não significa que as pessoas não devem procurar todos os meios de minimizar sofrimento e dor e tentar viver o mais tempo possível. Significa compreender que vida-morte são uma unidade.

“Sem a convicção de que vou me encontrar primeiramente junto de outros deuses, sábios, e bons, e depois de homens mortos que valem mais do que os daqui, eu cometeria um grande erro não me irritando contra a morte.”
(SÓCRATES IN PLATÃO, 2004:25)


Cada ser humano é um agregado de cinco elementos: forma física, sensações, percepções, conexões mentais e vários níveis de consciência. A forma física é formada pelos cinco elementos, que constituem toda a vida do céu e da terra. Causas e condições propícias e uma forma se manifesta. Causas e condições se transformam e as formas se transformam.

A mente, os vários níveis de consciência, igualmente estão neste constante fluir dependendo de causas e condições. Quando nasce uma criança fazemos uma celebração. Ritual de dar boas vindas. Em vários momentos da vida há rituais que marcam estágios da existência. No final da vida os rituais também são muito importantes e significativos.
A pessoa que está no final da vida, evidentemente, sabe que está no final. Nós somos a vida deste corpo-mente.
A certeza humana da morte aciona uma série de mecanismos psicológicos.

Morrer é como adentrar outra dimensão, como ir fazer uma viagem a lugares novos e desconhecidos. Ao mesmo tempo esses lugares são familiares. Conforme o "carma" – ações que deixam marcas, impressões na realidade – abrem-se mundos diversos para a pessoa que está deixando a vida. Podem ser universos de luz e alegria, podem ser de sofrimento e dor, podem ser campos, animais, plantas belíssimas ou cenários aterrorizadores. Nesse momento dizemos à pessoa que tudo surge de sua própria mente. Que não se atemorize. Que compreenda e, sem apegos e sem aversões, vá à luz infinita, liberte-se da vida e da morte.

Felizes os que conscientemente podem morrer.
Orando e agradecendo a vida. Abençoando e se despedindo com ternura dos que ficam. Entregando-se à experiência seguinte, sem apegos e sem aversões.

Refletido o tema proposto, convido a todos os leitores; a ir Tocando em Frente com serenidade sentindo e compreendendo a única realidade perceptível - O Aqui e Agora!

Amor é a lei. Amor sob vontade!!

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