sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Pã está morto.

O homem de hoje está faminto e sedento de uma relação segura com as forças psíquicas dentro de si mesmo. Sua consciência, recuando em face das dificuldades do mundo moderno, carece de um relacionamento com condições espirituais seguras. Isso o fará neurótico, doente, assustado. A ciência disse-lhe que não existe Deus, que tudo o que existe é matéria. Isso privou a humanidade de sua floração plena, de sua sensação de bem-estar e de segurança num mundo confiável.
Na medida em que o homem moderno é compelido a voltar-se para si mesmo, tomado de dúvida e medo, ele olha para a sua própria vida psíquica, a fim de que lhe dê algo de que sua vida exterior o privou. Em virtude do atual interesse generalizado por toda a espécie de fenômenos psíquicos — um interesse como o mundo não conhecia desde a segunda metade do século XVII — não parece fora do alcance da possibilidade acreditar que estejamos no limiar de uma nova época espiritual; e que, das profundezas da própria vida psíquica do homem, nascerão novas formas espirituais.

Olhamos o mundo à nossa volta, e que vemos? A desintegração de muitas religiões. É geralmente admitido que as igrejas não estão dominando as pessoas como outrora, especialmente as pessoas educadas, que não sentem mais serem redimidas por qualquer sistema de teologia. O mesmo se vê nas antigas religiões institucionais do Oriente: o confucionismo e o budismo. Metade dos templos de Pequim estão vazios. Em nosso mundo ocidental, milhões de pessoas não vão à igreja. Só o protestantismo se desmembrou em quatrocentas seitas religiosas.
Então em que se converteu? Para onde foi? A resposta é que está no inconsciente do homem. Pode-se dizer que desceu para um andar inferior.




O homem civilizado, em seus sonhos, revela a sua necessidade espiritual. Quando a ciência moderna desinfetou o céu, não encontrou Deus. Alguns cientistas dizem que a ressurreição de Jesus, o nascimento no ventre de uma virgem, os milagres — todas essas coisas que alimentaram o pensamento cristão ao longo das eras, são belas histórias, mas inverídicas. Mas eu digo: Não esqueçam o fato de que essas idéias que milhões de homens alimentaram de gerações em gerações são grandes e eternas verdades psicológicas.

Voltem o olho da consciência para dentro, a fim de ver o que aí existe. Vejamos o que se pode fazer em pequena escala. Se eu plantei corretamente uma couve, então servi o mundo nesse exato lugar. Não sei que mais posso fazer.
Examinem os espíritos que falam em vocês. Tornem-se críticos. O homem moderno deve estar plenamente cônscio dos terríveis perigos que residem nos movimentos de massa. Escutem o que o inconsciente diz. Prestem atenção à voz desse Grande Ancião dentro de vocês, que viveu tanto tempo, viu e experimentou tanto. Tentem compreender a vontade de Deus: a extraordinariamente potente força da psique.


A latência é, provavelmente, a melhor condição para o inconsciente. Mas a vida saiu das igrejas e nunca mais voltará a elas. Os deuses não se reinstalarão em domicílios que abandonaram uma vez. A mesma coisa aconteceu antes, na época dos Césares romanos, quando o paganismo estava agonizante. De acordo com a lenda, o capitão de uma embarcação que passava entre duas ilhas gregas ouviu um grande som de lamentação e uma voz gritando: Pan ho megas tethneken, o Grande Pã está morto. Quando esse homem chegou a Roma solicitou uma audiência com o imperador, tão importante era a notícia. Originalmente, Pã era um espírito secundário da natureza, principalmente ocupado em apoquentar os pastores; mas, depois, quando os romanos se envolveram mais com a cultura grega, Pã foi confundido com To Pan que significa "o Todo". Passou então a ser o Demiurgo, o anima mundi. Assim, os numerosos deuses do paganismo foram concentrados em um Deus. Então veio a mensagem, "Pã está morto". O Grande Pã, que é Deus, está morto. Somente o homem permanece vivo. Depois, o Deus uno transformou-se em homem, e esse foi o Cristo; um homem para todos os homens. Mas agora também esse partiu, agora cada homem tem que conter Deus em si. A descida do espírito na matéria está completa.

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